Em sua infância,
costumava ser crédula e confiante, como toda criança o é; convivendo, brincando,
criando mundos, junto com seus super-heróis favoritos e princesas dos contos de
fadas, convivendo em harmonia com os que residiam no mundo real, feitos de carne e
ossos.
Cedo descobriu o
egoismo das pessoas e a falácia manipuladora dos contos de fadas; então
revestiu-se com a couraça da justiça. Da sua justiça, egóica, friamente
planejada, articulada, mas útil aos propósitos que a geraram.
Não tinha a
intenção de magoar ninguém. Na verdade, o instinto de preservação estava tão
arraigado, que sequer ponderava ou lembrava da existência de outras pessoas, o
que se dirá de seus sentimentos.
A necessidade de proteger-se
dos eventos que presenciara com outras pessoas (algumas bem próximas, outras
nem tanto) transformaram-na em uma adolescente fria, distante de todos, mas
portadora de um sorriso e uma sagacidade de pensamentos que fascinavam o sexo
oposto, atraindo um clã de amigas ávidas pelos rapazes que fossem descartados em suas
investidas de conquistar a portadora do sorriso enigmático.
A vida transcorria
da maneira meticulosamente planejada por ela, sem muitos sobressaltos ou
surpresas, pois mantinha, inacreditavelmente, o controle de seus
sentimentos e coração. Conheceu pessoas, fez amigos e amigas, inspirou
paixões e até um grande amor... mas mantinha-se morna, controlada e controlando
tudo o que se relacionasse ao seu coração.
Mas todo o controle
é ilusório. Existe uma força maior do que a nossa consciência, do que nossos
desejos... o inesperado aconteceu, invadiu seu mundo, suas coisas, seus
desejos, seus projetos, suas articulações, sua vida. Chegou sorrateiro, como na
música de Chico Buarque, "e ganhou seu coração ... mas não lhe negava nada e assustada, disse NÃO!".
O portador de um linguajar
fascinante, envolvente, enigmático, suscitou dúvidas, mas ao mesmo tempo
enamorou, fascinou.
Um fascínio
crescente, alimentado por mais enigmas, presenças e ausências. Presença
estando ausente; invasão, quando presente. Entorpecendo, minando e fazendo cair
todo o aquartelamento por ela criado...
Ela
não percebia o
fio tênue que começava a envolver sutilmente todo o seu ser,
vendando-lhe os olhos e sentidos. A privação de sua visão clara e do instinto de preservação, iniciaram sua derrocada (ou seria vitória?)...
O
coração aqueceu muitos graus acima do
morno, as crenças infantis voltaram a povoar seus pensamentos; o desejo
de ser
amada, de ser querida transformaram seu cérebro e coração em um vulcão
em plena
atividade, ebulindo todo o magma incandescente, como um rio caudaloso
repleto
de pensamentos apaixonados e apaixonantes, que haviam ficado retidos por
anos
de auto-controle.
O medo de perder o
alvo de seus desejos, do complemento do seu ser, do portador da parte faltante
para completar sua felicidade, a tornaram uma mulher melhor, mais
humana, mais confiável, mais adorável.
Consumado,
estava, o
plano e a teia preparados pelo coração daquele homem apaixonado, que a
"idealizara" (em
algum momento de sua vida) como a parte apartada de sua existência, mas
primordial para sua felicidade. Ele havia intuido até seus traços, sua
aparência e pressentido seu modo de ser, de sorrir, de olhar.
Ele também traçara planos, determinara prioridades, escolhera com que armas lutaria para
conseguir seu objetivo e foi em busca da princesa que já ocupava intuitivamente
o trono do seu coração.
Deduzo
que tais anseios, bem mais humanitários do que os dela, sejam a causa dele
ter logrado êxisto em seu intento e ela não!
Ele não estava
interessado na auto preservação! Seu anelo tinha um "que" de divino: compartilhar com a mulher
idealizada o
que sobejava em seu coração.
Ou seja, aquele homem estava impregnado pelo
verbo AMAR (no modo "intransitivo")!
Por acaso foi baseado e inspirado em fatos reais?? me vi em muitos trechos dessa sua história..kkkk ou tudo não passa de mera coincidencia??kk
ResponderExcluirbjs