terça-feira, 10 de julho de 2012

Planos e coração







Em sua infância, costumava ser crédula e confiante, como toda criança o é; convivendo, brincando, criando mundos, junto com seus super-heróis favoritos e princesas dos contos de fadas, convivendo em harmonia com os que residiam no mundo real, feitos de carne e ossos.

Cedo descobriu o egoismo das pessoas e a falácia manipuladora dos contos de fadas; então revestiu-se com a couraça da justiça. Da sua justiça, egóica, friamente planejada, articulada, mas útil aos propósitos que a geraram. 

Não tinha a intenção de magoar ninguém. Na verdade, o instinto de preservação estava tão arraigado, que sequer ponderava ou lembrava da existência de outras pessoas, o que se dirá de seus sentimentos.

A necessidade de proteger-se dos eventos que presenciara com outras pessoas (algumas bem próximas, outras nem tanto) transformaram-na em uma adolescente fria, distante de todos, mas portadora de um sorriso e uma sagacidade de pensamentos que fascinavam o sexo oposto, atraindo um clã de amigas ávidas pelos rapazes que fossem descartados em suas investidas de conquistar a portadora do sorriso enigmático.


A vida transcorria da maneira meticulosamente planejada por ela, sem muitos sobressaltos ou surpresas, pois mantinha,  inacreditavelmente, o controle de seus sentimentos e coração.  Conheceu pessoas, fez amigos e amigas, inspirou paixões e até um grande amor... mas mantinha-se morna, controlada e controlando tudo o que se relacionasse ao seu coração. 

Mas todo o controle é ilusório. Existe uma força maior do que a nossa consciência, do que nossos desejos... o inesperado aconteceu, invadiu seu mundo, suas coisas, seus desejos, seus projetos, suas articulações, sua vida. Chegou sorrateiro, como na música de Chico Buarque, "e ganhou seu coração ... mas não lhe negava nada e assustada, disse NÃO!". 

O portador de um linguajar fascinante, envolvente, enigmático, suscitou dúvidas, mas ao mesmo tempo enamorou, fascinou. 

Um fascínio crescente, alimentado por mais enigmas, presenças e ausências. Presença estando ausente; invasão, quando presente. Entorpecendo, minando e fazendo cair todo o aquartelamento por ela criado... 

Ela não percebia o fio tênue que começava a envolver sutilmente todo o seu ser, vendando-lhe os olhos e sentidos. A privação de sua visão clara e do instinto de preservação, iniciaram sua derrocada (ou seria vitória?)... 

O coração aqueceu muitos graus acima do morno, as crenças infantis voltaram a povoar seus pensamentos; o desejo de ser amada, de ser querida transformaram seu cérebro e coração em um vulcão em plena atividade, ebulindo todo o magma incandescente, como um rio caudaloso repleto de pensamentos apaixonados e apaixonantes, que haviam ficado retidos por anos de auto-controle. 
 
O medo de perder o alvo de seus desejos, do complemento do seu ser, do portador da parte faltante para completar sua felicidade, a tornaram  uma mulher melhor, mais humana, mais confiável, mais adorável. 

Consumado, estava, o plano e a teia preparados pelo coração daquele  homem apaixonado, que a "idealizara" (em algum momento de sua vida) como a parte apartada de sua existência, mas primordial para sua felicidade. Ele havia intuido até seus traços, sua aparência e pressentido seu modo de ser, de sorrir, de olhar.

Ele também traçara planos, determinara prioridades, escolhera com que armas lutaria para conseguir seu objetivo e foi em busca da princesa que já ocupava intuitivamente o trono do seu coração.

Deduzo que tais anseios, bem mais humanitários do que os dela, sejam a causa dele ter logrado êxisto em seu intento e ela não! 

Ele não estava interessado na auto preservação! Seu anelo tinha um "que" de divino: compartilhar com a mulher idealizada o que sobejava em seu coração.

Ou seja, aquele homem estava impregnado pelo verbo AMAR (no modo "intransitivo")!




Um comentário:

  1. Por acaso foi baseado e inspirado em fatos reais?? me vi em muitos trechos dessa sua história..kkkk ou tudo não passa de mera coincidencia??kk
    bjs

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